Nos últimos dias, falei com alguns jornalistas sobre este blog. Alguns mais curiosos a respeito dele como fenômeno da Internet, outros mais interessados em falar sobre política. Das vezes em que falei, tentei mostrar nosso ponto de vista comum, meu e do meu parceiro Viton. Mas, desta vez, quero escrever um pequeno ensaio particular e confessional. Espero que o Viton me desculpe por usar este espaço pra algo tão pessoal.
Ontem fui ver Baader Meinhof Komplex, filme sobre luta armada numa época confusa e belicosa do mundo. Saí da sala de cinema me perguntando como eu me comportaria naquela época, durante a Guerra Fria e as ditaduras latino-americanas.
- Mas que papo chato do caralho!
Calma, não quero falar de esquerda e direita. Quero falar de coragem.
Será que eu teria coragem? Começo este texto sem saber ao certo e peço que você, leitor, embarque comigo nesta reflexão.
Vamos começar por este blog, que não deixa de ser uma iniciativa política. Em princípio, eu olho pra este blog e vejo um verdadeiro termômetro da insatisfação popular. Muito legal. A Internet é basicamente isso mesmo: tudo o que tem relevância pras pessoas vem à tona. Ou seja, tá muito fácil arrumar gente pra atirar pedras nos políticos. Atirar pedras pela Internet? Bem, esse é o outro lado da moeda. É um mundo fácil esse das revoluções virtuais, onde você pode se rebelar da cadeira do seu escritório, ao mesmo tempo em que mata um pouco o trabalho, o que Marx diria que já é um verdadeiro protesto silencioso contra o capitalismo. Conveniente. E pensar que as pessoas já pegaram em armas e agiram estupidamente em nome da liberdade! Nem parece que se passaram 40 anos.
Mas é uma outra época. Hoje está fora de moda fazer música de protesto, por exemplo.
Muita gente pragmática que visita o blog diz que, se o Sarney caísse, não mudaria nada. Eu digo: se o Lula caísse, não mudaria nada. Se ele fosse para um terceiro mandato, não mudaria nada. Cá entre nós, se Brasília fosse dizimada pela gripe H1N1 e tivéssemos que eleger novos representantes, ainda assim não mudaria nada. Isso porque os políticos de Brasília só fazem nos representar. Eles representam nossa complacência com o sofrimento alheio. Eles representam nosso egoísmo. Eles representam esse auê aqui embaixo. Representam essa mistura de gente interessada com gente querendo simplesmente aparecer. Os políticos de Brasília representam a distorção que é este próprio blog, que deixou de me dar satisfação como forma de protesto e agora me satisfaz tornando-me uma celebridade instantânea da blogosfera. Sim, estou falando de mim.
Então, me pergunto: mesmo insatisfeito como estou, eu teria coragem?
Não sei. Porque os tempos são outros. Porque eu tenho que trabalhar e pensar nas minhas férias do ano que vem. Porque tenho contas pra pagar. Porque são tempos em que uma poesia como esta aqui embaixo está fora de moda:
O Açucar.
O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
E afável ao paladar
Como beijo de moça, água
Na pele, flor
Que se dissolve na boca. Mas este açúcar
Não foi feito por mim.
Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e
Tampouco o fez o Oliveira,
Dono da mercearia.
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em Pernambuco
Ou no Estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
E veio dos canaviais extensos
Que não nascem por acaso
No regaço do vale.
Em lugares distantes,
Onde não há hospital,
Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome
Aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café esta manhã
Em Ipanema.
Ferreira Gullar
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Esta é cultura da paz. Só isso vale. É melhor que pegar em armas, é melhor que fazer o CANSEI. É politico mas é bem humorado. Cada um faz a politica de acordo com sua veia. A sua é engraçada. E ótima, ótima ótima. É a minha. Existe politica que um desenhinho qeu diz tudo? Pode ter coisa mais legal que tirar o bigode com um blog? Cara isso assim só no Brasil. Cultura de paz: esse é o caminho.
ResponderExcluirFerreira Gullar. Participou do grupo de intelectuais, que juntamente com Sarney fizeram oposição ao governo de Vitorino Freire no Maranhão. Tendo apoiado várias campanhas eleitorais 'dos Sarneys'.
ResponderExcluirÉ, a realidade de onde esse 'açúcar branquinho' (q ele consome) foi feito, eu e vários outros maranhenses conhecemos muito bem...v
É, nada tenho a acrescentar à postagem acima. Eu, maranhense que sou, sei bem o papel da maioria dos intelectuais do Maranhão (de joelhos) diante de Sarney. Salvam-se poucos, como Zeca Baleiro...
ResponderExcluirRicardo, sou maranhense, porem moro em São Paulo desde a adolescência, sinceramente a poesia caiu muito bem e faz jus a um "bocadinho" da realiadade da gente MA. Voltei a blogar, quando puder passe no meu Rancho: www.oranchodalica.blogspot.com
ResponderExcluirVocê está certa, Renata. Eu não gosto muito do movimento Cansei. Nós temos objetivos claros aqui, né? Não tô "cansadinho", muito pelo contrário, tô no começo da maratona.
ResponderExcluirJu, não sabia dessa faceta do Gullar. Nem do que a Maya complementou. Sabia que ele foi exilado, logo imaginei que o Arena não estava muito feliz com o que ele andava dizendo.
Heliane, vou dar uma olhada no blog. Valeu.
Cara, tudo que vc falou é verdade, mas nem por isso devemos ser pessimistas, ao contrário, acho que as coisas vão melhorando, não depende necessariamente de ninguém mas depende de todos. Nosso egocentrismo não nos deixa ver que o pouco que fazemos aqui e ali, muda sim as coisas, não da forma como se alguém pudesse reivindicar para si o mérito, muitas vezes nossa fantasia... mas o seu blog por exemplo, não desmerecendo seu mérito pela iniciativa, que pessoalmente acho genial, mas ele é reflexo dessa mudança, e se ele não é uma ação direta, ele repercute em conversas, e-mails, chats, etc. E isso hoje é fundamental, isso possibilitou a eleição do primeiro presidente negro nos Estados Unidos e do primeiro presidente operário no Brasil, para além das pessoas diretamente, isso é transformador, querendo ou não novas visões devem ser levadas em conta.
ResponderExcluirDe qualquer forma sua disposição em fazer uma certa auto-crítica, e chamar para essa reflexão também é louvável, parabéns.
Nosso amigo Victor Hugo já dizia: "Aos 20 anos morre-se pelas idéias, aos 40 pela família". Desde a época dele, faz já um tempinho, é ótimo ter ideais, pena muitas vezes nossas ideologias entram em confronto com nossas necessidades, contas para pagar(nossa ou da família) e necessidades da vida diária, daí nos deixamos levar e na prática fazemos o contrário do que pregamos :(
ResponderExcluirSabe, Ricardo, o Ma é um estado marcado por injustiças, míséria e opressão. E Sarney e o seu grupo são os agentes diretos de tudo isso. E eles são uma vergonha pra todo povo maranhense. Mas, o nosso MA tb é formado por pessoas lutadoras, inconformadas e que acreditam, assim, como vc em um mundo melhor!
ResponderExcluirBlog da Ju.
Ñ acredito no 'se', 'serah'. Ñ cabe. Jah passou. O negócio eh como agimos agora.
ResponderExcluirSugeri uma nova leitura para esta campanha. Ñ menos bem-humorada, ñ menos comprometida. Talvez um pouco mais... am... apimentada!:
http://pequenosdelitos.wordpress.com/2009/07/29/so-tiro-o-bigode-quando-tirarem-o-sarney/#comments
Tomara goste.
Abraço
Também fiz uma leitura do seu blog, e acrescentei fotos de bigodes famosos... Todos em greve, é claro.
ResponderExcluirhttp://mayafelix.blogspot.com/2009/07/greve-de-bigode.html
:=)
olá, eu quero acrescentar minha foto de bigode.
ResponderExcluircomo eu faço?
abraços
Será que eu teria coragem?
ResponderExcluirPergunto-me a mesma coisa. Mas não fala mais em Brasília ser dizimada pela gripe H1N1. Sou brasiliense e queria muito poder mudar o mundo, gritar mais, protestar mais. Mas então eu olho pro lado e vejo pessoas que não estão interessadas em ouvir meus argumentos políticos e então eu me calo. Me calo por que é só começar a falar no assunto que as pessoas se afastam de mim como se eu estivesse cheirando mal. É complicado falar disso, mas é a realidade. Tenho vergonha de confessar isso, mas do fundo do coração queria ter mais iniciativa de fazer diferente. Não me importar muito com moda e coisas assim. Já pensei até em quem sabe entrar na política, mas então imagino que ninguém iria querer alguém como eu para governar. As pessoas gostam de ouvir mentiras. Mas eu sei que se eu vivesse em tempos de ditadura, eu entregaria minha vida sim pela causa. Pões estaria diante de outras pessoas. Pessoas que se importam. Hoje ninguém pensa em ninguém e fica complicado querer começar uma luta aonde a maioria das pessoas iria te vaiar ao enviés de apoiar. Sem duvida guerras virtuais são mais fáceis.